Cerca de dois meses atrás, me mudei de casa, passei a morar com meu namorado. Ao arrumar minhas roupas e sapatos, reparei que não vestia nem calçava muitos deles há tempos e que vários sequer tinham sido usados um dia. - Quanto dinheiro gastei em vão?
Por vezes, a compra daquela blusa ou daquele vestido, usados apenas uma vez, gerou um prazer momentâneo não maior que o arrependimento por ter comprado algo caro que não trouxe um retorno benéfico, uma satisfação suficiente.
Mais culpada ainda me senti ao recolocar meus livros na prateleira e constatar que boa parte deles ainda não li. Tanta história e conhecimento empoeirados numa prateleira. Tudo bem, estão ali, "um dia lerei", justifico a mim mesma.
Não tenho problema em confessar que amo a sensação de poder adquirir, de possuir objetos que desejo. Isso faz bem para o ego, inclusive, mas será que esse consumismo descontrolado compensa? O custo-benefício é justificado? Creio que nem sempre, justamente por esse tipo de constatação que gera culpa.
Não serei radical, nem idiota. Para mim é importante poder obter bens que farão com que eu me sinta mais bonita e elegante, que me tragam conforto e propiciem algum prazer, mas questiono essa cilada do "tem que ter", sendo que TER possui um significado tão efêmero... frívolo. Aderir à onda da #ostentação: para quê? Para quem?
Hoje, antes do banho, peguei esse xampu da Natura que comprei umas semanas atrás e, na embalagem, havia esta pergunta provocadora: PRA QUE VOCÊ PRECISA DO QUE NÃO PRECISA? A resposta pode ser um simples "não, eu não preciso".
Acabei de passar por uma black friday e a única compra que meu namorado e eu fizemos foi a assinatura de duas revistas. Sinto que estou começando a conseguir controlar a fome do consumo, antes insaciável. Isso traz a sensação de que estou mais centrada, equilibrada, voltada para o que realmente importa.
Com sinceridade, me deixa muito melhor do que quando compro um vestido novo.