terça-feira, 17 de setembro de 2019

🦋

Mudo
Transito
Transformo
Carrego significado, que pode já não ser
Não sou a mesma, pois cíclica
Sinto a dor de cada lua, nasci dela e hoje a escolhi
Da dor de uma mulher eu vim
Com dor também recebo a lua em mim

13.09.2019

domingo, 16 de setembro de 2018

Tenho evitado postagens polêmicas. Uma, porque a coisa anda tensa por aqui nesse período. Duas, por preguiça de discussões intermináveis.
Mas estou com esse caso entalado na garganta e sinto necessidade de me expressar.

Chorei quando vi as cenas que registram o tratamento a que ela foi submetida.
Fiquei profundamente triste por tentar me colocar no lugar dela.
Embora sejamos ambas advogadas, é impossível imaginar as aflições dela.
Todos os dias são praticados desrespeitos à nossa classe, aos quais também posso estar sujeita, e eles culminam em situações mais intensas, porém não poderia conjecturar que algo semelhante se tornasse real.

Estive em São Paulo no mês passado e tive oportunidade de visitar uma exposição chamada "Histórias afro-atlânticas",  sobre a escravidão no continente americano, no Instituto Tomie Ohtake. Foi lá que tirei essas duas fotos.
Fiquei tão impactada com os horrores que vi ali, que, desde então, coloquei-me a observar e refletir mais sobre a situação do negro no Brasil.
Incomoda-me quase não ver negros nos tribunais e ambientes forenses, assim como me incomodou frequentar restaurantes bons em SP e praticamente não ver negros entre os clientes, mas vários entre os funcionários.

Não estou sugerindo privilégios, mas o nosso país precisa de uma estrutura que dê oportunidades, pois, sem elas, não sairemos deste lugar.
Aqueles que creem - como um dia eu já cri - que a meritocracia tem que ser imediata e absolutamente aplicada no Brasil, e também aqueles que não acreditam que haja preconceito racial, mas sim preconceito social, olhem para a minha colega, Dra. Valéria. Ela é advogada. Estudada. Trabalhadora. Tudo isso não foi suficiente. Ela foi humilhada e algemada injustificadamente, violada em vários direitos inerentes à sua profissão e à sua existência.
Sou jovem, tenho 9 anos de profissão, no entanto não me recordo de precedente semelhante, e seria no mínimo muita coincidência, seria muito "azar", que um caso bizarro assim acontecesse justo com uma profissional mulher e negra.

Quando vi Dra. Valéria no chão e algemada, chorei e me lembrei imediatamente dessas imagens, delas entre tantas da exposição sobre a escravidão que vi mês passado.
O racismo existe, velado ou explícito, estrutural ou direto. É só olhar sem pré-conceitos que você vê.

Li vários textos a respeito desse caso e também vi alguns vídeos. Em nenhum deles senti vitimismo. Os relatos são bem genuínos e totalmente críveis.
Isso me entristece e me motiva a seguir refletindo sobre o quanto precisamos evoluir.
Compartilho alguns trechos da entrevista da advogada Valéria Lúcia dos Santos à Folha e registro minha admiração à sua postura firme e combativa diante de toda a violação sofrida.
Serve como ensinamento para mim e os meus colegas.

"Aí você pensa: Como é a formação da nossa sociedade? Vamos dar os nomes: tem o senhor de engenho, a senhorinha, o capitão do mato. E quem estava no chão algemado? Eu.
O Estado é racista, entendeu? Mas se eu falo isso é mimimi, é vitimismo, por isso que eu não queria atrelar esse caso a racismo, porque eu não quero ouvir essa resposta. A minha luta ali era garantir o meu direito de trabalhar. O racismo vai voltar a acontecer. Eu tento abstrair, ignoro. Mas não dá para tirar o meu ganha pão.
Naquele dia, a juíza leiga já tinha começado a audiência com uma pergunta não muito amigável. A minha cliente também é negra, e a juíza falou: 'vocês são irmãs?'. A cliente respondeu, eu fingi que não tinha ouvido e continuei o meu trabalho.
Episódios assim acontecem quase todo dia, mas muitos colegas não falam porque acham que não vale a pena ou não querem criar problema. Vou dar um exemplo simples. O direito tem várias formalidades. Tem uma cadeira para o advogado e uma para o cliente. Eu sento na cadeira do advogado e os juízes me perguntam: 'a senhora é o quê?'. Ou eles falam para os outros advogados na sala que já os conhece, mas eu preciso mostrar a carteira da OAB. Não adianta eu dar o número, preciso mostrar o documento.
Não vou te enganar, eu entro nas audiências e não me sinto representada. A gente está em minoria na estrutura institucional do Judiciário." - https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/09/o-estado-e-racista-mas-se-falo-isso-e-mimimi-diz-advogada-algemada-no-rio.shtml


Publicado no facebook em 13.09.2018

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

9:23
Perambulo sem rumo pela casa
Olho no espelho e me vejo soturna
Estou combinando com o céu desta quarta
Mas são 9:25
- Como muda rápido o relógio?
Tenho tanto a fazer, que não consigo começar
Há dias, sinto um peso nos olhos
Querendo fechá-los
Sonhar tem sido uma boa escolha
Dias cinzas do ciclo
Aplacam a minha potência
A cabeça não para
O corpo permanece inerte

sábado, 23 de abril de 2016

Marlei

Pepita dourada, pequena, lá do Potrerito
Derretida menina de Amélia
Vestido branco, cabelo preto

Menina modelada pelo ourives Tempo
Talhada com vigor e beleza
Morena colant azul-piscina
Solda corações com o seu andar

Quem a olhava moça
Não imaginava a nobreza de suas fibras
Da qual talvez sequer você, senhora, tenha plena consciência

Seu valor não é efêmero
Sua resistência, rara, suporta as intempéries
Coisas da vida
Que levam anéis e deixam dedos 
que guiam, afagam e sustêm - infinitamente mais valiosos por isso

Joia polida, cravejada de fé
Preciosa nas lutas

Bonita de viver, por viver
Cada vez mais bonita na vida
Tempo sabe o que faz


*23 de abril de 2016, 58 anos da mamãe.

domingo, 17 de abril de 2016

Como será o amanhã?

Sol tinindo, propício para um banho de rio.
Roseira florida neste domingo lindo de abril.
Mas - acabou a poesia - minha flora não está legal! (Só compartilho isso porque achei muito pertinente, considerando o momento histórico.) Deve ser virose...
Nada de rio, vou ficar quieta aqui.
Sentada na poltrona monocraticamente eleita, minha cabeça está na segunda-feira.
Como será o amanhã?




quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Deixe amar*


aquele que tem
a pretensão de ditar
o custo, o gênero ou a posição do amor
deve trazer consigo
a soberba do salvo, aquela que transfigura a face

ou é o que guarda a dúvida do que não provou
quiçá, ainda, guie-se
pela autoridade do hipócrita

pois, se há pecado neste mundo
bem-vindos todos à sua irresistível prática!
e sempre haverá um - assim dito - pecado
que, sendo alheio, causará especial incômodo

saiba:
seu pecado
também poderá causar incômodo a outrem
ou ser ignorado
por sua doce irrelevância

que, em ser livre para amar
para pecar e, caso queira, para perdoar
deve residir a essência do não julgar

pela consciência de que
nesta terra
tudo acabará
em indiferente pó




*Esse poema foi escrito em junho de 2015. Na época, a Suprema Corte dos EUA aprovou o casamento gay em todo o país e ocorreu uma grande polêmica na internet em razão de uma ferramenta disponibilizada pelo Facebook, pela qual os usuários podiam inserir as cores do arco-íris em suas fotos de avatar, em celebração à decisão americana.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Vou


Irresistível é a imensidão do mundo 
E desaforo ficar parada diante dela 
Quero abraçar o mundo, ainda que meus braços sejam apegados ao ninho 
Pois foi o ninho que me deu coragem para ir além dele 

O afago no pescoço no passeio de bicicleta 
A febre da escarlatina 
A força dada às minhas pernas 
O carinho no joelho 

Jogo de bola 
Cabelo amarrado 
A molecagem 
“Deixe ser do jeito dela” 

O mato e o rio 
Sagacidade na fisgada do peixe 
Tiros certeiros 
Audácia da caçada na noite 
A dor da picada da tocanguira 
Curiosidade... 

Batalhas, tropeços, dificuldades 
Sempre juntos 
Superações constantes, juntos 

A coragem, presente 
A coragem 
Nesta minha vida 
Motivam a encarar 

E o ninho, indestrutível, convida a seguir sem temor 
Constatar que o mundo, imenso, é pequeno 
E pode ser todo meu 
Pois meus pés podem pisar onde eu quiser 
Porque as linhas divisórias só existem nos mapas 
As fronteiras são invenções dos homens 
Convenções as propriedades 

E quando eu necessitar volver 
O meu ninho estará aqui 
Sempre amável 
Quente 
Seguro 
Pronto para me receber 
Aconteça o que acontecer 

Eu posso voltar para ele 
Mas, para voltar, é preciso ir 
E ver o que há 
E o desejo é ir 
Desbravar 
Conhecer 
Me reconhecer 
Em cada canto e face estrangeira 

Porque, é certo 
Em cada canto 
Há um desafio e uma novidade 
Não há o que temer 
Pois ele, o ninho, sempre velará por mim 
Então vou 

Sem medo

domingo, 30 de novembro de 2014

Pra que você precisa do que não precisa?

Há algum tempo venho refletindo sobre viver com mais simplicidade. Muito em razão da nova fase pela qual estou passando, que, com o surgimento de prioridades diferentes, requer que meus rendimentos sejam investidos em coisas mais úteis/menos fúteis.

Cerca de dois meses atrás, me mudei de casa, passei a morar com meu namorado. Ao arrumar minhas roupas e sapatos, reparei que não vestia nem calçava muitos deles há tempos e que vários sequer tinham sido usados um dia. - Quanto dinheiro gastei em vão? 

Por vezes, a compra daquela blusa ou daquele vestido, usados apenas uma vez, gerou um prazer momentâneo não maior que o arrependimento por ter comprado algo caro que não trouxe um retorno benéfico, uma satisfação suficiente. 

Mais culpada ainda me senti ao recolocar meus livros na prateleira e constatar que boa parte deles ainda não li. Tanta história e conhecimento empoeirados numa prateleira. Tudo bem, estão ali, "um dia lerei", justifico a mim mesma.

Não tenho problema em confessar que amo a sensação de poder adquirir, de possuir objetos que desejo. Isso faz bem para o ego, inclusive, mas será que esse consumismo descontrolado compensa? O custo-benefício é justificado? Creio que nem sempre, justamente por esse tipo de constatação que gera culpa.

Não serei radical, nem idiota. Para mim é importante poder obter bens que farão com que eu me sinta mais bonita e elegante, que me tragam conforto e propiciem algum prazer, mas questiono essa cilada do "tem que ter", sendo que TER possui um significado tão efêmero... frívolo. Aderir à onda da #ostentação: para quê? Para quem?

Hoje, antes do banho, peguei esse xampu da Natura que comprei umas semanas atrás e, na embalagem, havia esta pergunta provocadora: PRA QUE VOCÊ PRECISA DO QUE NÃO PRECISA? A resposta pode ser um simples "não, eu não preciso".

Acabei de passar por uma black friday e a única compra que meu namorado e eu fizemos foi a assinatura de duas revistas. Sinto que estou começando a conseguir controlar a fome do consumo, antes insaciável. Isso traz a sensação de que estou mais centrada, equilibrada, voltada para o que realmente importa.

Com sinceridade, me deixa muito melhor do que quando compro um vestido novo.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Tempo fugido


Resgatando o tempo fugido
Foi-se tanta energia, desperdiçada
Choro sentido, ausência de paz
Tudo em vão!

Supervalorizado objeto inútil
Tudo vil!

A roda gira, nada fica igual
Não necessito mais demonstrar o meu poder
Não preciso mais provar que tenho o controle
Agora eu sei: a roda continua a girar

Está determinado
Foi sacramentado
ninguém poderá intervir
Você não irá conter
É a ordem natural
Mas lembre-se: nada fica igual

Aquieta-se, não vai conseguir
Resigne-se
Apenas siga
Apenas siga

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Pai


Pai,
Hoje li um texto que me fez lembrar você.
O escritor, sentindo a partida do último filho que deixava a casa, falava da culpa por ter empregado tanto tempo trabalhando intensamente enquanto os filhos cresciam sem que ele percebesse e se dizia com inveja de quem pode acompanhar mais de perto o desenvolvimento, em cada fase da vida dos filhos.
Embaixo do texto, disponibilizado no blog do tal escritor, uma das filhas dele dizia, entre outras coisas, sobre o quanto admirava a conduta do pai, que se sacrificou para lhes oferecer conforto e boa educação.
Como não poderia me lembrar de você?!
Foram anos sacrificando o corpo e a mente com a labuta pesada diária no mato e as preocupações inatas de seu temperamento, agravadas pelas dificuldades surgidas no caminho.
Eu lamento não ter nenhum dos seus talentos artísticos e sua agilidade física. Mas como somos parecidos, como diz a mamãe, “no gênio”!
Não é fácil ter tão alto parâmetro em quem se espelhar.
São tantas lembranças do seu carinho e do seu esforço. Me recordo de coisas da infância, quão doces recordações...
As suas mãos firmes, hábeis, marcadas pelo trabalho duro, são um dos sinais mais fortes que trago da sua imagem, pai.
A distância foi muito difícil. Nós acabamos nos habituando a essa condição física, mas os nossos espíritos estiveram sempre juntos.
Me entristece cogitar que a sua reclusão seja uma eterna autopunição por um insucesso já tão distante, quanto mais por saber que você pode ser tudo e qualquer coisa, pois sua capacidade é infinita.
Vejo em meu pai – em você – um homem culto, sedento por conhecimento, mas de pensamento livre. Crítico ao extremo com as coisas e com as pessoas, principalmente com as próximas. Capaz de surpreender alguém por puramente dizer a verdade, tão medida e escanteada em razão dos limites politicamente corretos vigentes, doa ela a quem doer.
A sua disposição causa inveja e não é superada, como você diz, por muito guri 30 anos mais jovem.
Quantas qualidades posso ainda enumerar?
Quantas histórias da nossa vida há para contar?
Pai, você é um grande vencedor.


*créditos da foto: Lana

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

repostagem_4 - o velho ensimesmamento

Gosto de eu
Vem que eu te conto
Sem charme.
Com olheira e tudo. Sem esmalte nem brinco nem adorno
Serei franca
Tentarei, juro.
Não estão prontos pra sinceridade
Não estamos, nós.
Vêm e me ajudam a não ser, nós.
Perjuro. Confesso.
Senta perto, que eu não quero ficar mais rouca
Interrompe com sua história que é mais linda e longa
e eu vou imaginando tudo
O cenário com os olhos da cor que eu gosto
seus.
Um palavrão para parecer mais real.
Alegoriza com simplicidade de sempre
Sem omitir detalhes
Palavras comuns
Pisco rápido para aproveitar o tempo e flagrar os fluídos que carreiam o que eu adoro
Não encosta em mim. Não precisa. Só fica perto.
Não sai daqui.
Não sai daqui, tá?

repostagem_3 - o velho ensimesmamento

Banalidades I (as que não são banais pra mim)

Sentido de algumas coisas.
Efeitos das coisas. O que elas causam aos outros. A percepção de cada um sobre cada uma delas.
O que elas causam em mim.
Coisas de outras pessoas em mim.
O que significa uma piscada de olhos pra fulano.
O que é um “eu te amo” pra beltrano. Pra mim e pra ele (ele: o beltrano).
Pode sair assim, tão natural e verdadeiro, mas soar com diversas faces.
Podia ser simplesmente como é. Ser só. (Só de somente).
Mas o sentido muda.
E sentir muda o que se vê, o que se ouve, o que se percebe.
As gentes podem fazer o que quiserem.
Um amigo me disse para não tentar imaginar. Não supor. Não prever.
Impossível! Impossível não ver o que se quer. Ser imparcial com a vida. Não tomar partido. (O próprio partido).
Quando paro e agradeço a não-sei-quem por não fechar os olhos só pra dormir. Agradeço ou contemplo? Não sei!
Pensar em alguém.
Dormir sorrindo mesmo assim. Ainda sorrir... Pensar em si e sorrir. Pode ser...
Ainda fechar os olhos não só para dormir, ainda sorrir sem motivo.
Que mais pode querer?
Não quero dar a coisa certa. Não quero que o outro sinta como eu sinto.
Sentir me faz feliz só. (Só de sozinho).
Não sei por quanto tempo. Mas faz.

repostagem_2 - o velho ensimesmamento

Sai pra lá!
Não me encosta mais.
Quero não quero.
Quero você, mas não quero sofrer.
Quero cabeça erguida. Orgulho.
Quero sentir, quero amar. Quero amar um dia.
Amo? ou amarei?
Amaria, quiçá.
Mas você não deixa. Me deixa!
Me deixa, troço!
Me engasga, irrita, amarga.
Quero doce, quero doce.
Quero seu lilás, seu bege e seu cinza.
Cheiro suas cores com chá de cidreira e mastigo seus lábios com torrada e requeijão toda manhã.
Tá vendo?
Tá errado. Tudo errado. Desordenado.
Me quero de volta.
Nunca mais faça isso, troço.
Não encosta mais em mim.

repostagem_1 - o velho ensimesmamento

Esse troço

Sabe aquele troço... paixão?
relutei
sapateei
soquei
solucei
suspirei
pirei
Com essa suavidade de furacão, por que não?
Sua vida de...
Minha vaidade.
Amando, odiando, fazendo os dois ao mesmo tempo. Sentindo tudo junto, misturado.
Quem não sabe amar ainda, pergunta: ser ou estar?
- Ser ou estar?
Eu não quero esse troço: paixão.
Bradei.
Pra quê?
Adiantou de nada.
Disse-me que saberia quando sentisse.
Mas como?
Ponto de referência? Ponto de referência?
Meu ponto de referência é o que me dói.
É você e sua paixão, seu troço!
Quem mandou perguntar?
Agora aguento.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

trechinho de A insustentável leveza do ser, de Milan Kundera.

Um dia, Tereza chegou a sua casa sem ser convidada. Um dia, partiu da mesma maneira. Chegara com uma pesa da mala. Com uma pesada mala partira de volta.

Pagou a conta, saiu do restaurante e foi dar uma volta pelas ruas, cheio de uma melancolia cada vez mais radiosa. Tinha atrás de si sete anos de vida com Tereza, e agora percebia que esses anos eram mais belos na lembrança do que no momento em que tinham sido vividos.

O amor entre ele e Tereza era belo mas doloroso: era preciso sempre esconder alguma coisa, dissimular, fingir, retificar o que dizia, levantar-lhe o moral, consolá-la, provar continuamente que a amava, suportar as reclamações de seus ciúmes, de seu sofrimento, de seus sonhos, sentir-se culpado, justificar-se e desculpar-se. Agora, o esforço tinha desaparecido, e só ficara a beleza.