Junto ao ranço dos prazeres efêmeros, guardo pequenos segredos esquecidos e bobos, numa canastra, talhada de escrúpulos nunca quistos.
Bem podia ter lá dentro um pouco de histórias livres e emocionantes, daquelas de se arrepender com gosto desafiado, bem podia ser eu assim. Bem queria.
Meu espelho, a transitoriedade dos desejos, tanta coisa. Ah! Tanta coisa.
Acabei de cair no sono e acordei lenta, uma lisérgica sensação do sonho ter sido verdade, por isso falo assim, solta e arrependida de sentir tão lúbrica, como se um grilo dormisse na janela, em cima da cabeceira, junto comigo. Pensar nisso me incomoda.
É digno arrepender-se de sentir? De ser tentada pelo que vem de dentro de mim mesma? Arrependo-me também disso. Por que devo pensar? Essas coisas não podem se impregnar assim.
E quanto àqueles segredos, nunca são esquecidos, apenas me refiro a eles dessa maneira porque desejo. Desejo esquecer que desejo, porque não posso. Não posso sentir, mas está na minha pele, um amálgama com a consciência em que a vontade corrói a necessidade de não desejar.