terça-feira, 6 de setembro de 2011

Pai


Pai,
Hoje li um texto que me fez lembrar você.
O escritor, sentindo a partida do último filho que deixava a casa, falava da culpa por ter empregado tanto tempo trabalhando intensamente enquanto os filhos cresciam sem que ele percebesse e se dizia com inveja de quem pode acompanhar mais de perto o desenvolvimento, em cada fase da vida dos filhos.
Embaixo do texto, disponibilizado no blog do tal escritor, uma das filhas dele dizia, entre outras coisas, sobre o quanto admirava a conduta do pai, que se sacrificou para lhes oferecer conforto e boa educação.
Como não poderia me lembrar de você?!
Foram anos sacrificando o corpo e a mente com a labuta pesada diária no mato e as preocupações inatas de seu temperamento, agravadas pelas dificuldades surgidas no caminho.
Eu lamento não ter nenhum dos seus talentos artísticos e sua agilidade física. Mas como somos parecidos, como diz a mamãe, “no gênio”!
Não é fácil ter tão alto parâmetro em quem se espelhar.
São tantas lembranças do seu carinho e do seu esforço. Me recordo de coisas da infância, quão doces recordações...
As suas mãos firmes, hábeis, marcadas pelo trabalho duro, são um dos sinais mais fortes que trago da sua imagem, pai.
A distância foi muito difícil. Nós acabamos nos habituando a essa condição física, mas os nossos espíritos estiveram sempre juntos.
Me entristece cogitar que a sua reclusão seja uma eterna autopunição por um insucesso já tão distante, quanto mais por saber que você pode ser tudo e qualquer coisa, pois sua capacidade é infinita.
Vejo em meu pai – em você – um homem culto, sedento por conhecimento, mas de pensamento livre. Crítico ao extremo com as coisas e com as pessoas, principalmente com as próximas. Capaz de surpreender alguém por puramente dizer a verdade, tão medida e escanteada em razão dos limites politicamente corretos vigentes, doa ela a quem doer.
A sua disposição causa inveja e não é superada, como você diz, por muito guri 30 anos mais jovem.
Quantas qualidades posso ainda enumerar?
Quantas histórias da nossa vida há para contar?
Pai, você é um grande vencedor.


*créditos da foto: Lana

4 comentários:

Cláudia Boechat disse...

Conheço seu pai. Uma figura e tanto! De fato, admirável. Culto, bem-humorado e bravo! rsss Me divirto muito todas as vezes que vou lá no pesqueiro. E não me refiro à cerveja ou ao delicioso churrasco. Me refiro ao papo dele, de uma sagacidade incrível! Podemos tanto falar de coisas profundas quanto de merda, literalmente. rsss Sempre em altíssimo nível. Ah, pra você me identificar, sou a mulher do Carlinhos.

Cláudia Boechat disse...

Conheço seu pai. Uma figura e tanto! De fato, admirável. Culto, bem-humorado e bravo! rsss Me divirto muito todas as vezes que vou lá no pesqueiro. E não me refiro à cerveja ou ao delicioso churrasco. Me refiro ao papo dele, de uma sagacidade incrível! Podemos tanto falar de coisas profundas quanto de merda, literalmente. rsss Sempre em altíssimo nível. Ah, pra você me identificar, sou a mulher do Carlinhos.

Ana C. Trevelin disse...

Oi Marla,
Eu chorei (estou chorando) pelo que escreveu para o seu pai... acho que eu me reconheci. Ou reconheci o meu pai.
Obrigada pela leitura e grandeza em dividir a experiência...
beijo,
Ana

Lwana disse...

Poxa Marlinha.... Que texto lindo, real, puro e verdadeiro...Assim como me deixou emocionada aqui tenho certeza que muitas outras pessoas também se sentiram tocadas! É incrível como os pais têm sempre esse sentimento de hipossuficiência! Eles não fazem ideia do quanto são admirados por nós...sem eles nós não seríamos metade do que somos hoje!!!! Parabéns pela sua iniciativa... tenho certeza de que todos que lerem vão sentir um pouquinho de culpa por não conseguir exteriorizar tanto amor que "temos"no coração!!!! (eu me incluí nesse rol sim) Nossos pais merecem SIM toda a admiração do mundo pois são seres humanos indescritíveis em poucas palavras!!! Simplesmente amados e adorados por muitos!!!! Quanto ao seu pai... ELE É PHODA!!!! rsrsrsrsrs Amo vcs!!! bjus